São imagens esbatidas, meio apagadas,
como aquelas fotografias antigas e
enclausuradas em molduras de metal como
se fossem grades de uma prisão perpétua.
Ainda assim, conseguem manter a pose
permanecendo orgulhosamente silenciosas
e indiferentes ao relógio de pêndulo que
as fita num desdém insolente lá do canto
oposto da sala e cujos ponteiros há muito
que passaram a rodar no sentido contrário,
marcando as horas que já foram... são
rostos calados, com sorrisos forçados pela
urgência do momento, segurando
insistentemente um instante que as havia
de suspender no tempo, devolvendo-as à
posteridade



Deveria ser Dezembro, não sei ao certo. Mal pus o pé na rua o meu rosto encheu-se de espanto... nunca tal tinha visto! A rua estava toda vestida de branco, parecia que alguém a tinha polvilhado de açúcar. Tinha nevado na minha aldeia, coisa rara de se ver por aquelas bandas, pois que nos meus quatro anos de vida era a primeira vez que acontecia tamanha fortuna para deleite dos meus pequenos olhos tomados pelo encanto daquele instante tão emocionante e belo, que guardo até hoje na prateleira mais valiosa da minha memória.

Foto de Cleo (impulsos)
Ao entardecer, ainda o sol se não tinha escondido, já a lua subia por cima do monte frio, decidida e segura da sua arrasadora beleza, encantadoramente brilhante e redonda, poderosamente capaz de atrair sobre si os olhos de quem gosta e sabe apreciar a magia que a mãe natureza oferece em cada novo dia que nasce. Era assim naquele tempo já tão distante e continua a ser hoje, no momento em que vos escrevo acerca da fortuna que ganhei há duas semanas atrás, no mesmo sítio de outrora. O tempo passa, mas os lugares, as memórias e as sensações... ficam.
Basta olhar, admirar e sentir!


Primeiro texto original (já aqui estão outros do mesmo conjunto, entretanto alterados de modo a ficarem mais enriquecidos) de um conjunto de 44 que aqui irei publicar e que fazem parte de um concurso do site Escritartes, para o qual os escrevi propositadamente mas cujo número de caracteres exigido não poderia ultrapassar os 600. Daí a prosa simples e resumida.

Foto de Cleo (impulsos)
Munidos de pás e picaretas quase do nosso tamanho, lá fomos direitinhos ao pinhal em busca de um penedo jeitoso para dar início à descoberta do nosso tesouro que a minha avó, que não mentia, me havia garantido existir por debaixo de um penedo(todos tinham tesouros) um tesouro ali escondido pelos Mouros antes de partirem, tal como está registado nos livros de História, que o nosso país foi conquistado aos Mouros. Por isso, só tínhamos que escavar!
Foram dias seguidos de trabalho árduo até nos rendermos ao cansaço, sem conseguir-mos sequer fazer abanar o penedo...

Foto de Cleo (impulsos)
Janela para o passado do desconhecido.
Que fantasmas habitarão no interior das paredes que se apagaram das memórias?
Coisas que só os mortos sabem...